terça-feira, 25 de junho de 2013
Marla de Queiroz
Tão familiar é a fisionomia da saudade. E a lembrança da labareda alta do
desejo, indo além: ao desalcance dos olhos. O toque constante, desavisado,
parecendo uma distração. O olhar intenso, querendo ver o campo sutil das
palavras. E toda nossa existência ampliada pelo sol do amor. Tão familiar a
fisionomia da saudade, que ainda posso ver os pêlos saindo dos poros, tão junto
meu rosto do teu. Das arranhaduras da carícia bem feita que uma barba mal feita
faz. E um jeito de trazer minha cabeça pro lugar mais escurinho entre o
travesseiro e o teu pescoço. Teu cheiro todo lá, naquele abrigo antes do sono. E
no derradeiro das frases, o corpo insinuando mais que uma leitura, mais que uma
dança, mais que comunhão. Das palavras que ainda inventaremos por achar tão
divertido namoramar em dialeto
inexistente. Tão familiar a fisionomia da saudade que meus dedos vão redigindo
tua voz em meu ouvido (...) e nossos delírios poéticos nos bares de cada rua
desta cidade em que somos os amantes mais excêntricos - uma combinação perfeita
de desejo, lirismo e essa nossa ternura escandalosa.